Lançado em 2004, The Lord of the Rings: The Third Age foi uma tentativa curiosa da EA de criar um RPG por turnos dentro do universo cinematográfico de O Senhor dos Anéis.
Ao contrário dos títulos anteriores (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring – 2002, The Lord of the Rings: The Two Towers – 2002, The Lord of the Rings: The Return of the King – 2003), que apostavam em ação direta, aqui a proposta é mais tática, algo que pode até surpreender quem conhece apenas os filmes.
Um RPG por turnos à la Final Fantasy
A maior inspiração do jogo é clara: Final Fantasy X. O sistema de combate é por turnos com ordem dinâmica, permite a troca de personagens durante as batalhas e exige certo planejamento para vencer inimigos mais fortes. Mas, ao contrário do Final Fantasy, mesmo os personagens que ficavam de fora do combate recebiam metade da experiência, o que já ajudava bastante na progressão.
Cada personagem do grupo tem um papel bem definido: tanque, curandeiro, dano físico, dano mágico, suporte… e aos poucos, novas habilidades vão sendo desbloqueadas conforme a gente distribui os pontos nas árvores de evolução. A progressão é simples, mas funcional. O jogo permite equipar armas, armaduras e acessórios, e o visual dos personagens muda com cada peça, algo que, pra época, chamava bastante atenção.
Durante a campanha, tive a chance de enfrentar chefes icônicos como o Balrog, os Nazgûl e até o Olho de Sauron em uma batalha final simbólica. Esses momentos equilibram bem o fan service com o desafio. Mas nem tudo funciona com o mesmo peso: a IA nem sempre reage bem, e em combates comuns a dificuldade oscila bastante, algumas lutas são fáceis demais, e outras, especialmente as sequenciais, vêm com picos de dificuldade meio inesperados.

A história que corre por fora
Diferente da maioria dos jogos baseados em O Senhor dos Anéis, The Third Age não coloca a gente no papel dos grandes heróis da Terra-média. Em vez disso, acompanhamos uma história paralela à trilogia de filmes, vivida por personagens inéditos que percorrem os mesmos caminhos da Sociedade do Anel, mas com outra missão, menos heroica e mais “pé no chão”.
Tudo começa com Berethor, um capitão da guarda de Gondor, enviado por Denethor para encontrar Boromir, que estava desaparecido desde que partiu rumo ao Conselho de Elrond. Logo de cara, Berethor é atacado por um Nazgûl e salvo por Idrial, uma elfa de Lothlórien que passa a acompanhá-lo. A partir daí, a dupla inicia uma jornada por várias regiões da Terra-média, sempre tentando seguir os rastros da Sociedade, e enfrentando perigos próprios no caminho.
Com o tempo, outros personagens vão entrando para o grupo: Elegost, um arqueiro Dúnedain; Morwen, uma guerreira de Rohan com um passado pesado; Hadhod, um anão sobrevivente de Moria; e Eaoden, um cavaleiro rohirrim que entra na reta final.
Cada um tem uma motivação diferente, mas todos acabam se unindo num objetivo comum: combater as forças de Sauron por conta própria, mesmo que fora dos holofotes.
O mais legal é justamente essa sensação de estar “nos bastidores” da história principal. Em vários momentos, eu passava por locais que haviam acabado de ser palco de batalhas icônicas. Moria, por exemplo, ainda carregava as marcas da luta do Balrog.
Leia também: Disgaea 3: Absence of Detention – uma análise e grind desse RPG tático
Já em Helm’s Deep, a sensação era de reforçar uma linha de defesa paralela à que a gente conhece dos filmes. Assim, o jogo faz um bom trabalho em nos colocar dentro do universo, sem interferir diretamente nos acontecimentos centrais.
Além dos orcs e trolls, o grupo também enfrenta grandes antagonistas da mitologia de Tolkien, com algumas liberdades criativas da EA, claro. Há confrontos com os Nazgûl em diferentes momentos, uma luta direta com o Balrog, um espectro de Sauron numa batalha cheia de simbolismo, e até uma luta final contra o próprio Olho de Sauron, que mistura combate e metáfora em partes iguais.
A narrativa em si não traz grandes atuações ou diálogos memoráveis, mas é bem conduzida. A narração do Gandalf (com a voz original do Ian McKellen) dá um charme extra e ajuda a conectar os eventos do jogo com os filmes.
Apesar de linear e previsível, a história funciona bem como pano de fundo para a jornada. Ela aborda temas como sacrifício, honra, esperança e guerra, refletindo o espírito da obra de Tolkien, mesmo com um grupo de heróis que nunca vai aparecer nas canções de glória.
Quem é a sociedade do anel do jogo?
Durante a jornada no The Third Age, a gente não controla ninguém conhecido da Sociedade do Anel, mas acaba formando um grupo bem próprio, com personagens que têm lá suas motivações e histórias paralelas. Mesmo sem tanto carisma quanto um Aragorn ou um Gimli, cada um tem seu papel dentro da equipe e no combate.
Berethor
O protagonista da história é o Berethor, um capitão da guarda de Gondor. Logo de cara, percebi que ele é aquele tipo de personagem que segue ordens sem questionar muito, bem leal ao dever. Ele começa a jornada tentando encontrar Boromir, seguindo uma ordem direta de Denethor. Só que conforme a história avança, dá pra ver que Berethor não é apenas um soldado obediente, ele carrega uma culpa pessoal, além de um conflito interno em relação ao próprio Denethor, que não é exatamente o líder mais sensato de Gondor.
Em combate, Berethor funciona como o tanque/ataque do grupo: resiste bem a dano, consegue provocar os inimigos para tirar o foco dos aliados e também é ótimo em buffs defensivos e ataques, principalmente quando aprende Fúria de Gondor. Ele é o típico guerreiro honrado, mas sem a presença ou o carisma de um Aragorn, e isso é algo que o jogo até aborda ao longo da jornada.
Idrial
Logo no início da jornada, conhecemos a Idrial, uma elfa de Lothlórien, que salva o Berethor durante o ataque inicial dos Nazgûl. Ela acaba sendo a primeira companheira da nossa aventura e, desde o começo, já passa aquela impressão clássica dos elfos: sábia, reservada e sempre com um ar de quem sabe muito mais do que revela.
O que eu mais senti jogando é que a Idrial funciona como um contraponto direto ao Berethor. Enquanto ele é um soldado impulsivo, que só conhece o mundo pelas ordens recebidas em Gondor, ela já tem uma visão mais ampla da guerra e da história da Terra-média. Em vários momentos, ela é aquela personagem que orienta o grupo e explica o que está acontecendo ao redor, principalmente sobre os perigos que estão prestes a aparecer.
No combate, a Idrial se tornou indispensável pra mim. Ela tem o papel de curandeira principal, mas também consegue causar um bom dano mágico, principalmente contra criaturas das trevas. As magias de cura dela são essenciais em praticamente todas as batalhas mais longas, e o jogo faz questão de dar habilidades que equilibram suporte e ataque, o que deixa ela bem versátil.
Além disso, o próprio desenvolvimento dela é interessante porque aos poucos ela vai mostrando mais emoções e preocupações em relação ao grupo, algo raro para personagens elfos em geral. E isso fez eu criar um certo apego durante a campanha, principalmente nas partes em que o grupo enfrenta ameaças maiores, como o Balrog ou os Nazgûl.
No fim das contas, a Idrial é aquela personagem que eu sempre mantive na equipe principal. Ela combina suporte, bom dano e carrega aquela sensação de segurança durante as batalhas mais difíceis.

Elegost
Logo depois, conhecemos o Elegost, um arqueiro Dúnedain. Ele é bem mais reservado e sério, o típico personagem que fala pouco e observa muito. Mas no combate, o cara brilha: tem ótimos ataques à distância, golpes de dano direto e habilidades de suporte, como setas do sono, que coloca todos os inimigos para dormir, principalmente quando o jogo nos coloca em desvantagem numérica.
Ele também tem uma ligação pessoal com Berethor, os dois se conheciam antes da história do jogo começar, e dá pra perceber que Elegost está ali meio por obrigação de proteger o capitão, mas aos poucos acaba se envolvendo de verdade na missão. Eu sempre curti usar o Elegost nas lutas por das chances de colocar os inimigos para dormir e de quebrar a defesa dos inimigos logo no começo dos turnos.
Leia também: Lançamentos de games em Julho de 2025: o que vem por aí?
Hadhod
O grupo também conta com Hadhod, um anão sobrevivente das tragédias em Moria que não podemos deixar de sentir aquele estereótipo clássico do anão: teimoso, cabeça-dura e direto ao ponto. Mas isso acaba funcionando bem porque Hadhod também traz aquele toque de humor sarcástico e acaba sendo um dos poucos momentos mais leves da história.
No combate, ele é o personagem de dano pesado e resistência absurda com ataques que atingem vários inimigos de uma vez e habilidades que quebram a defesa dos adversários, o que é uma mão na roda em várias lutas mais longas. Eu gostei bastante de usar o Hadhod em lutas contra grupos grandes porque ele aguenta o tranco e ajuda a acelerar o ritmo do combate.
Morwen
Mais pra frente na campanha, aparece a Morwen, uma guerreira de Rohan que é bem diferente dos outros personagens porque tem uma motivação mais emocional. A família dela foi morta durante os ataques de Saruman, e ela acaba se unindo ao grupo muito mais por vingança do que por dever ou honra.
Ela é um dos personagens que mais cresce em combate ao longo da jornada. Começa meio básica, mas depois vira uma máquina de dano físico, especialmente contra orcs e uruk-hai. Além disso, Morwen tem um estilo de luta agressivo e é excelente pra acabar com inimigos comuns rapidamente.
Gostei de como o jogo explora essa raiva dela no começo e depois vai mostrando um lado mais companheiro quando ela percebe que lutar junto aos outros é mais importante do que buscar vingança sozinha. Sem contar que ela rouba o Berethor da Idrial, romanticamente falando, algo que foi uma supresa pra mim.
Eaoden
Já na parte final da campanha, o Eaoden, um cavaleiro de Rohan, entra pro grupo. Ele é mais sério, disciplinado, e traz aquela postura de soldado que já viu muita coisa ruim na guerra e com uma motivação mais voltada ao dever mesmo, lutar pela liberdade do povo de Rohan e proteger o reino contra as forças de Saruman e Sauron.
Eaoden acaba sendo uma adição mais tática pro time. Ele é ótimo contra criaturas específicas, como Wargs e criaturas corrompidas, além de ter golpes rápidos e de dano alto. Eu senti que ele foi útil pra diversificar as estratégias no final, mas como ele entra bem tarde, é provável que muita gente acabe usando mais o grupo inicial, já que boa parte das habilidades deles já estão bem evoluídas nessa altura.
Visuais e som: uma Terra-média digna do PS2
Visualmente, o jogo impressionava bastante para a geração PS2. Os cenários recriam muito bem os ambientes dos filmes, com variações climáticas, iluminação adequada e uma boa variedade de inimigos. O design dos personagens também funciona, e a interface é clara, com menus fáceis de navegar.
Mas o que realmente me marcou foi a trilha sonora. As músicas são diretamente adaptadas das composições de Howard Shore, o que ajuda demais na imersão. Além disso, os efeitos sonoros, como o tilintar das espadas, o rugido dos trolls ou o som ambiente em lugares como Osgiliath, reforçam ainda mais o clima épico da aventura.

Modo Maléfico: jogando do lado sombrio da Terra-média
Uma das coisas mais curiosas que encontrei em The Third Age foi o Modo Maléfico, um conteúdo extra desbloqueável que nos permite assumir o controle dos inimigos enfrentados ao longo da campanha. A cada região concluída, como Moria, Rohan ou Minas Tirith, esse modo é liberado no menu, oferecendo uma nova perspectiva sobre batalhas que já vivemos.
Na primeira vez que joguei esse modo, fiquei surpreso. A ideia é deixar os heróis de lado e controlar orcs, trolls, Wargs, espectros, e até chefes como o Balrog ou os Nazgûl, enfrentando o nosso próprio grupo principal, agora nas mãos da IA.
O sistema é simples, mas é divertido dar uma diversificada. E o mais interessante é que, ao vencer todas as batalhas do modo em determinada área, dá pra receber equipamentos raros, itens especiais e até pontos de experiência que podem ser usados na campanha principal.
Mesmo sem narrativa própria, o Modo Maléfico oferece um conteúdo extra bacana. É quase como um “modo arena”, mas com um toque de desafio e fan service. Controlar o Balrog e sair detonando meu próprio grupo foi uma experiência no mínimo curiosa. Não é essencial pra terminar o jogo, mas quem curte completar tudo ou testar as mecânicas de forma diferente vai gostar bastante.

Desempenho e parte técnica
Na versão de PS2, The Third Age roda de forma bem estável. As batalhas fluem, os carregamentos são rápidos e eu não encontrei nenhum bug que atrapalhasse a progressão. Salvar o jogo é fácil, com pontos bem distribuídos pelos mapas, e o gerenciamento do grupo também é tranquilo.
Hoje em dia, jogando em emuladores, as coisas ficam até um pouco mais fáceis, com save state e a possibilidade de acelerar o jogo, principalmente nas batalhas comuns.
O jogo não tem dublagem em português, o que era esperado pra época, mas algumas versões contam com legendas, e essa foi uma grata surpresa quando joguei pela primeira vez. Não esperava algo do tipo num RPG do PS2, e ajudou bastante na imersão.
Duração e ritmo
A campanha principal dura por volta de 20 a 25 horas, dependendo do quanto você explora. Na minha segunda jogatina, já conhecendo tudo e acelerando as lutas via emulador, levei cerca de 18 horas. O jogo até tem alguns combates opcionais e itens escondidos, mas ele não incentiva tanto a rejogabilidade depois dos créditos.
O ritmo é linear e direto ao ponto. As fases seguem uma estrutura clara: combate, pequena exploração, cena de transição, e assim por diante. Mesmo sem grandes surpresas, o fluxo é bom. Eu nunca senti que o jogo se arrastava, ele entrega o que promete e fecha bem o que se propõe.
Vale a pena revisitar The Lord of the Rings: The Third Age?
Esse foi um experimento único da EA, nunca mais vimos outro RPG por turnos no universo de O Senhor dos Anéis com essa abordagem. Apesar das limitações, como a falta de liberdade, personagens pouco desenvolvidos e estrutura linear, The Third Age ainda é um jogo divertido, com bom combate, trilha sonora marcante e uma ambientação fiel aos filmes.
É um RPG sem grandes firulas, ideal pra quem quer uma jornada mais conduzida e direta pela Terra-média. Não é um jogo profundo ou cheio de mecânicas complexas, mas tem seu valor, especialmente se você curte o universo de Tolkien e gosta de batalhas por turno bem construídas.
E você, já conhecia The Lord of the Rings: The Third Age? Chegou a jogar na época? Me conta nos comentários como foi a sua experiência.
Apenas mais um gamer que gosta de se aventurar nas histórias e registrar o seu caminho nessa jornada.