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Broken Pieces: análise do thriller psicológico que brinca com o tempo

Broken Pieces me chamou atenção desde o primeiro momento pela proposta singular dentro do cenário indie. Desenvolvido pela Elseware Experience, um pequeno estúdio francês, o jogo me entregou uma experiência que mistura ação-aventura, investigação, quebra-cabeças e uma atmosfera sobrenatural envolvente.

Lançado em setembro de 2022, e disponível para Playstation, Xbox e Steam, Broken Pieces trouxe uma mistura muito interessante de nostalgia, tensão e exploração em um cenário que lembra bastante a Bretanha Francesa dos anos 1990.

Um ciclo temporal em busca de respostas

Logo de cara, eu me vi no papel da Elise, uma mulher na casa dos 30 anos que resolve se mudar com o noivo para a vila costeira de Saint-Exil. Mas o que parecia ser um recomeço rapidamente virou um pesadelo: Elise se vê presa em um ciclo temporal, revivendo o mesmo dia repetidas vezes.

O mais impactante foi sentir aquela vila completamente vazia e silenciosa, cercada por fenômenos sobrenaturais que mexem tanto com a percepção do tempo quanto com a realidade ao redor.

Efeito sobrenatural no mar do jogo Broken pieces
Broken Pieces. Acervo pessoal.

Conforme fui avançando, percebi que o isolamento da vila era só o começo. Além disso, a história mergulha em temas de ocultismo e experimentos secretos feitos durante a Guerra Fria.

O jogo não entrega tudo de bandeja, temos que descobrir isso aos poucos, coletando fitas cassetes, documentos, cartas e gravações, o que me fez entrar de cabeça nesse universo cheio de cultos bizarros e manipulação temporal.

Elise em uma igreja com um altar de ocultismo no jogo Broken Pieces

A jornada de Elise também é muito pessoal. Conforme exploramos, nos deparamos com memórias dela, lembranças do relacionamento com Pierre, o noivo desaparecido, e momentos em que era difícil separar o que era realidade do que era alucinação ou projeção da própria Elise.

O jogo brinca o tempo todo com isso, deixando o jogador questionando o que realmente está acontecendo.

Os momentos mais intensos pra mim foram explorando áreas isoladas, como o farol, antigas bases militares e prédios abandonados. Cada novo local parecia carregar mais um pedaço do quebra-cabeça, sempre escondendo pistas valiosas ou fitas com áudios que, aos poucos, ajudaram a construir a narrativa completa.

Não é um enredo simples, e justamente por isso eu senti que estava sempre engajado, atento a cada detalhe.

Personagens e relações

Em termos de personagens, Broken Pieces é bem direto. Jogamos o tempo todo com a Elise, mergulhando nos pensamentos, dúvidas e emoções dela.

Pierre, seu noivo, aparece apenas de forma indireta, através das fitas e lembranças, servindo como uma presença constante na narrativa, mas sem interação direta.

Outros personagens, quando aparecem, estão sempre relacionados a documentos, gravações ou fenômenos sobrenaturais, reforçando a sensação de isolamento que o jogo passa do começo ao fim.


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Jogabilidade: entre exploração, quebra-cabeças e sobrevivência

Falando da jogabilidade, Broken Pieces tem um estilo que mistura bem exploração, puzzles e um pouco de combate. A estrutura do mundo não chega a ser aberta no estilo tradicional, mas é ampla o suficiente pra eu sentir liberdade enquanto caminhava por Saint-Exil.

A movimentação é em terceira pessoa, e um detalhe que eu achei bem legal foi o uso de câmeras fixas em alguns momentos, o que remeteu bastante a jogos clássicos de terror, mas sem perder aquela sensação de controle.

Outro ponto interessante é o ciclo de dia: eu precisava organizar bem o que ia fazer porque, ao anoitecer, a Elise era automaticamente enviada de volta para casa, forçando o planejamento de cada exploração. Além disso, os inimigos ficavam mais fortes no período noturno, podendo ser um incentivo a mais para estar em casa.

Os quebra-cabeças são um ponto forte no jogo. Eles variam bastante e, o mais legal, é que não são só puzzles por puzzle. Muitos deles estão diretamente ligados à exploração, ao clima ou ao uso de objetos do inventário.

Inclusive, um dos destaques pra mim foi a mecânica de manipulação do clima, em determinados momentos, eu podia alterar as condições meteorológicas para abrir novos caminhos ou resolver enigmas.

O sistema de fitas é uma mecânica interessante introduzida no jogo. Eu achava as fitas durante a exploração e usava o gravador pra ouvir mensagens importantes, que não só ajudavam a entender a história, mas também davam pistas pra resolver problemas no ambiente.

Era aquela típica sensação de “não posso deixar nada passar” enquanto explorava cada canto. Além disso, eu poderia utilizar o tocador para ouvir música durante a exploração dos cenários.

No combate, o jogo é bem direto, com inimigos espectrais em pontos específicos, com direito a esquiva e uso de armas de fogo. Não é o foco da experiência, mas adiciona aquela tensão extra, especialmente em momentos mais fechados.

Elise combatendo seres sobrenaturais no jogo Broken Pieces
Combate em Broken Pieces. Acervo pessoal.

A munição era sempre algo pra ficar atento, mas não cheguei a ter problema com isso na minha run. Aliás, o craft foi algo que não senti a necessidade de fazer. A saúde era recuperada com itens consumíveis ou descansando em casa, o que reforçava a importância de saber a hora certa de encerrar o dia.

Além das missões principais, também esbarrei em algumas atividades secundárias, como pequenos desafios em máquinas arcade, que ajudavam a quebrar o ritmo e me davam recompensas extras. Algumas realmente foram desafiadoras, mas nada que um pouco de dedicação não resolvesse.

Atmosfera e Direção Artística

O grande trunfo do jogo, na minha opinião, é a atmosfera. Saint-Exil tem um charme próprio: aquela vila costeira, com clima europeu, arquitetura clássica e aquele ar de abandono que passa uma sensação constante de desconforto e curiosidade.

Tudo isso é potencializado pela trilha sonora, que consegue equilibrar momentos introspectivos e momentos de tensão como poucos jogos fazem.

A direção artística também me agradou bastante. O uso de câmeras fixas, os detalhes dos cenários e a paleta de cores fazem Broken Pieces ter uma identidade visual bem marcante. Além disso, gostei bastante da forma como o jogo alterna entre áreas abertas e locais mais fechados, sempre mantendo uma boa variedade visual.

Elise do jogo Broken Pieces explorando um enigma
Broken Pieces. Acervo pessoal.

Pontos fortes e pontos fracos

Depois de terminar o jogo, ficou claro pra mim que o grande ponto forte de Broken Pieces é sua atmosfera. Somado a isso, o jogo consegue prender pela ambientação e pela sensação de solidão da forma que esse fez.

A trilha sonora também merece destaque: é impactante e sempre encaixa bem nos momentos certos. E, claro, os quebra-cabeças são outro ponto altíssimo, bem pensados, integrados ao mundo e sem aquela sensação de quebra artificial no ritmo do jogo.

Por outro lado, não posso ignorar que o combate é bem básico e se torna repetitivo. Na maior parte do tempo, eu sentia que o combate estava ali mais pra preencher espaço do que pra acrescentar algo à experiência.

Outro ponto que me incomodou um pouco foi a forma como a narrativa é fragmentada, mesmo gostando desse estilo, achei que em alguns momentos o jogo exagera, tornando a história um pouco mais confusa do que precisava. Ainda mais quando pegamos as fitas fora de ordem, tornando um pouco mais desafiador o entendimento da história, que por si só já é mais confusa.


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Considerações finais

Broken Pieces me proporcionou uma experiência bem acima da média quando o assunto é atmosfera, ambientação e exploração. É um jogo que aposta pesado na imersão, no mistério e nos detalhes, e entrega muito bem isso. Se você curte jogos focados em narrativa, que valorizam a exploração e os puzzles, vai encontrar aqui um prato cheio.

Claro que não é perfeito, o combate e alguns pontos de ritmo poderiam ser melhores, mas o saldo geral é bem positivo.

Pra quem curte jogos como Silent Hill, Alan Wake ou até Life is Strange, Broken Pieces tem tudo pra surpreender, principalmente por ter sido feito por um time tão pequeno, mas cheio de criatividade.

Se você decidir jogar, recomendo mergulhar de cabeça, explorar cada canto e ouvir cada fita com atenção. A recompensa não é só resolver o mistério da vila, mas entender o peso emocional da jornada da Elise.

Aproveite e deixe aqui nos comentários a sua opinião sobre o jogo. Já chegou a jogar ele? O que achou? Adoraria saber.

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