Análise de Cronos: The New Dawn

Cronos: The New Dawn: uma viagem temporal no survival horror

Após o sucesso de Silent Hill 2 Remake. A Bloober Team entrega o seu mais novo jogo de terror. Confira a análise de Cronos The New Dawn.

O meu interesse pelos jogos da Bloober Team cresceu bastante recentemente, principalmente após o excelente trabalho que fizeram no remake de Silent Hill 2, na qual eu já fiz uma análise também. Eu sempre gostei de acompanhar a evolução do gênero survival horror, embora nem sempre seja fácil lidar com a tensão constante que esses jogos provocam.

Quando Cronos: The New Dawn foi anunciado, trazendo uma proposta curiosa de ficção científica misturada com terror e viagens no tempo, ele logo entrou no meu radar. Assim, decidi dar uma chance e embarcar nessa nova jornada para ver se o estúdio consegue entregar uma experiência tão marcante quanto os clássicos que a inspiraram.

O que é o Cronos: The New Dawn?

Lançado para Playstation 5, Xbox Series e PC, Cronos: The New Dawn é a nova aposta da Bloober Team. Diferente dos jogos anteriores da desenvolvedora, que focavam mais em “simuladores de caminhada” com terror psicológico, aqui temos um survival horror em terceira pessoa raiz, com combate, gerenciamento de recursos e muita tensão.

No jogo, assumimos o papel de uma personagem enigmática conhecida apenas como “Traveler” (A Viajante). Ela é uma agente de uma organização misteriosa chamada “The Collective” (O Coletivo).

Nossa missão foge do convencional: precisamos navegar por um mundo destruído para encontrar fendas temporais que nos levam de volta ao passado. O objetivo? Extrair a “essência” de pessoas importantes que morreram em um evento cataclísmico, trazendo-as para o futuro.

Cronos The New Dawn

História e ambientação

Se em Mass Effect viajamos pelas estrelas para salvar o futuro, em Cronos: The New Dawn a solução para a sobrevivência está enterrada no passado. A trama é movida por um evento cataclísmico conhecido apenas como “A Mudança” (The Change). Esse evento não só dizimou a sociedade como a conhecemos, mas transformou a humanidade em algo irreconhecível, gerando as abominações que enfrentamos.

O que me pegou de surpresa logo no início é que não somos exatamente um “herói” no sentido clássico. Nossa tarefa principal é voltar no tempo para a Polônia dos anos 80 e encontrar pessoas específicas, figuras-chave que morreram durante o apocalipse.

Não estamos lá para impedir a morte delas ou salvar o mundo inteiro de uma vez; o objetivo é extrair a “essência” dessas pessoas momentos antes de morrerem e trazê-las para o futuro. Isso cria um clima moralmente cinza: você caminha entre pessoas que estão condenadas, sabendo que só pode salvar a essência de algumas selecionadas pelo Coletivo.

A ambientação é, sem dúvida, um dos pontos altos da experiência, pois o jogo cria um contraste brutal entre dois mundos:

  • O Futuro Frio: Onde a sede do Coletivo reside, tudo é dominado pelo Brutalismo. Tudo é feito de concreto maciço, formas geométricas rígidas e tecnologia analógica misturada com futurismo. Não há natureza, não há calor. É um ambiente estéril que reflete a falta de humanidade que restou naquele tempo.

  • A Polônia de 1980: Quando viajamos para o passado, a atmosfera muda, mas continua opressiva. As ruas são cinzentas, os prédios são blocos habitacionais padronizados e há uma sensação constante de decadência e abandono. O jogo utiliza essa estética “leste europeu” para criar um terror muito particular. Explorar interiores de casas com móveis de madeira antiga, televisores de tubo chiando e papéis de parede desbotados cria um contraste bizarro quando monstros futuristas invadem a sala.

Assim como mencionei na minha experiência com Code Vein, onde memórias fragmentadas contavam o passado dos personagens, em Cronos a narrativa secundária brilha nos detalhes. Encontramos gravações de cientistas que começaram a perceber as falhas na realidade e relatos de civis comuns tentando viver suas vidas sob um regime opressor, sem saber que o fim do mundo estava batendo à porta.

Como o jogo funciona?

Se você estava acostumado com os jogos mais “passivos” e focados em jumpscares da Bloober Team (como Layers of Fear), vai se surpreender. Cronos abandona a impotência dos títulos anteriores, adota a câmera sobre o ombro clássica e coloca uma arma pesada na nossa mão. Mas não se engane: ter uma arma não significa que você é o Rambo.

Combate tático e “pesado”

A exploração é tensa e os corredores labirínticos escondem recursos escassos. O combate aqui exige frieza. As armas têm um “coice” realista e o tempo de recarga pode parecer uma eternidade quando um monstro está correndo na sua direção.

Um detalhe que me fez sofrer um pouco no início foi a movimentação. O jogo não possui um botão de esquiva dedicado ou rolamento rápido como estamos acostumados em jogos de ação mais modernos. Desse modo, a defesa é o puro posicionamento: correr para trás, circular os inimigos e usar o cenário. Para um jogador como eu, que às vezes se atrapalha nos controles na hora do pânico, isso gerou alguns momentos de frustração, mas, analisando friamente, percebi que é uma escolha de design para aumentar a sensação de vulnerabilidade.

Você precisa pensar antes de entrar em uma sala, pois fugir nem sempre é uma opção viável.

A ferramenta de extração

Além das armas de fogo, temos uma ferramenta multifuncional no braço esquerdo, usada para a extração de essência. No meio do combate, ela adiciona uma camada extra de complexidade: muitas vezes precisei alternar entre atirar para causar dano e usar essa ferramenta para interagir com o ambiente ou finalizar certas mecânicas, tudo isso enquanto tentava não ser encurralado.

Exploração e quebra-cabeças

O ritmo do jogo intercala momentos de terror frenético com a resolução de puzzles. Como um bom survival horror, encontrei várias portas trancadas e dispositivos que exigiam itens específicos para funcionar. Os quebra-cabeças não são excessivamente difíceis, mas exigem atenção aos documentos e ao cenário (algo que a Bloober sempre fez bem).

A exploração também muda dependendo da linha do tempo. No futuro, a verticalidade e os espaços abertos me deixavam paranoico com ataques à distância. Já na Polônia de 1980, os ambientes claustrofóbicos de apartamentos e escritórios limitavam minha visão, criando um terror muito mais intimista.

Gerenciamento de inventário

Por fim, prepare-se para o “Tetris de inventário”. O espaço para carregar munição, itens de cura e itens chave é limitado.

Várias vezes me vi na difícil decisão de usar um item de cura para pegar munição extra, torcendo para não me arrepender na sala seguinte. Ou então tive que voltar para a sala de save para descarregar o inventário no baú. Essa segunda opção, diga-se de passagem, fiz com bastante frequência.

É aquele tipo de tensão “boa” que te obriga a planejar cada passo.

Inimigos e desafios: don’t let them merge!

Assim como os inimigos pertubadores de Silent Hill, os do Cronos também oferecem suas peculiaridades de bizarrice. Os inimigos aqui são chamados de Orphans (Órfãos), abominações feitas de carne humana distorcida e membros extras. Mas o verdadeiro terror não é apenas o visual deles, e sim o comportamento.

A mecânica que mais me chamou a atenção, foi a de “Merge” (Fusão). Em Cronos, matar um inimigo não significa necessariamente que o problema acabou. Se houver outros monstros por perto, eles podem tentar se fundir com os cadáveres que você deixou no chão. Se eles conseguirem completar a fusão, eles se tornam variantes “Merged”, que são muito mais fortes, rápidos e possuem a pele mais escura e espinhosa. Isso cria uma pressão constante: você precisa decidir se foca no monstro vivo ou se corre para impedir que ele absorva o corpo do amigo morto ao lado.

Durante a jornada, encontrei diversos tipos de ameaças:

  • Doppelgangers: São os inimigos “básicos”, variando entre corredores rápidos e versões brutas que aguentam muito dano.

  • Jaws e Centipedes: O jogo adora te punir por não olhar para as paredes e tetos. Esses inimigos ficam grudados nas superfícies e te atacam com tentáculos ou cuspindo ácido. Fui pego de surpresa várias vezes entrando distraído em salas que pareciam vazias. Entrentanto, é interessante ver que no cenário sempre havia uma brecha em que você poderia ver o inimigo e atirar nele antes de chegar em seu campo de visão.

  • Inimigos Blindados: Alguns possuem proteções na cabeça ou no corpo, exigindo que você mire com precisão nos pontos fracos expostos.

O arsenal e a estratégia

O arsenal de Cronos é intencionalmente enxuto, mas cada peça tem um propósito claro. Não estamos falando de dezenas de armas genéricas; aqui, cada nova descoberta muda sua abordagem tática. As armas possuem um design industrial, com nomes curiosos que parecem ferramentas de trabalho pesado adaptadas para a guerra.

As pistolas: precisão vs. cadência

  • Sword MK-1615 (Pistola inicial): não se deixe enganar pelo nome “Espada” ou por ser a arma inicial. Ela foi minha companheira fiel em 90% da jornada. O segredo dela é o tiro carregado, que perfura inimigos e economiza munição.

  • Adaga PS-3713 (Pistola tática): encontrada na Siderúrgica, pouco antes de pegarmos as botas de gravidade, a Adaga traz uma proposta diferente. Ela foca na precisão letal e cadência, sendo perfeita para momentos em que eu queria derrubar inimigos de forma mais silenciosa ou rápida, sem o tempo de carga da Sword.

As escopetas

  • Martelo PROV-2030 (Escopeta padrão): encontrada no Projeto Habitacional, essa arma faz jus ao nome. Quando a coisa aperta e os inimigos chegam perto demais, a “Hammer” é a melhor amiga para jogar as criaturas para trás (knockback) e criar espaço para respirar.

  • Mace JER-5120 (Cano duplo): se o Martelo afasta, a Mace destrói. Localizada durante o flashback no Hospital, ela é uma escopeta de cano duplo devastadora. Sua munição é rara, então eu a reservava exclusivamente para aqueles momentos de pânico absoluto onde precisava limpar uma sala com um único disparo.

Médio Alcance e Versatilidade

  • Dardo LK-102 (Carabina Javelin): ao chegar na Zona Hospitalar (Setor A0), o jogo nos apresenta a Javelin. Ela preenche a lacuna do combate a médio alcance, oferecendo um equilíbrio ótimo entre poder de fogo e precisão, ideal para corredores mais longos onde a escopeta perde eficácia.

  • Lança REV-1411 (Carabina de Elite): já na reta final, na Abadia da Igreja (Campanário), encontramos a Lança. Pegar essa arma exige um pouco de exploração (seguir a gata Freya e achar a chave do escritório), mas vale a pena. Ela representa o auge da versatilidade do arsenal, sendo fundamental para os desafios finais do jogo.

A artilharia pesada

  • Arbalest MT-1020 (O “Lança-Foguetes”): essa foi a maior surpresa para mim. Encontrada na loja de brinquedos da estação de bonde, ela parece um rifle comum à primeira vista, mas funciona como um lançador de foguetes. O dano em área é absurdo. Usei estrategicamente para limpar grupos de inimigos ou causar dano massivo em chefes, mas cuidado com o “fogo amigo” da explosão!

Estratégia de Combate

Como o loot é escasso, tive que parar de encarar o cenário apenas como decoração. A estratégia muitas vezes se resumia a alternar entre a Sword para inimigos isolados e a Martelo para grupos. Na verdade, posso dizer que 95% jogo se resumiu a pistola e a escopeta inicial, pois não há recursos para dar upgrade em muitas armas ao mesmo tempo, e como elas são as iniciais, foi mais fácil manter assim.

Além disso, a regra de ouro permanece: queime os corpos.

Não importa se você derrubou o monstro com um tiro preciso de Adaga ou uma explosão de Arbalest; se não usar as ferramentas incendiárias para finalizar o serviço, a mecânica de fusão vai trazer o inimigo de volta, mais forte e mais letal.

Vale ou não a pena jogar Cronos: The New Dawn?

Misturando a atmosfera pesada de Silent Hill com a tensão de combate estratégico, Cronos: The New Dawn é uma experiência sólida que mostra a evolução da Bloober Team.

Para aqueles que curtem survival horror clássico, com gerenciamento de inventário e uma história de ficção científica “cabeça”, o jogo é um prato cheio. Ele pode ser um pouco punitivo para quem espera um jogo de ação frenético (a falta de esquiva pode incomodar), mas a satisfação de sobreviver a cada encontro e desvendar os mistérios da viagem no tempo compensa o esforço.

Eu saí dessa jornada cansado, tenso, mas com aquele sorriso de quem acabou de vivenciar uma grande história de terror.

Agora fico no aguardo de mais jogos com a mesma temática, como os já anunciados Silent Hill 1 Remake pela própria Bloober Team e o remake de Fatal Frame 2.

E você, jogou Cronos? O que achou? Deixe aí nos comentários.

 

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